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Ensaio no Teatro Verdi, em Salto-SP

14 AGO, 2023 - No palco de madeira gasto, o som dos passos se mistura ao eco da música que invade o espaço. As luzes estão ajustadas, mas ainda incertas, oscilando entre cores que hesitam em iluminar a cena. Cada um dos dançarinos ocupa seu espaço, como peças vivas de um quebra-cabeça que ainda não foi encaixado. Há no ar uma sensação de expectativa – algo entre o medo de falhar e a esperança de criar.


O ensaio começa, e com ele, a entrega. Um, dois, três... os corpos se movem, ritmados pela contagem marcada pelo coreógrafo. Ele caminha entre os dançarinos, orientando com gestos ora leves, ora firmes, como se suas mãos modelassem a própria energia que se espalha pelo espaço. "Mais precisão!", ele grita, e eles respondem com movimentos que, ainda que estejam longe de serem perfeitos, carregam uma sinceridade despretensiosa.


A repetição é um ritual quase hipnótico, um ciclo de tentativa e erro que desafia a paciência de cada um. Nos olhos dos dançarinos, ora brilha o cansaço, ora o brilho de um pequeno triunfo ao acertar um movimento difícil. Um sorriso discreto aparece aqui e ali, quase como um segredo compartilhado entre aqueles que entendem a intensidade do momento. Entre passos e pausas, surge algo que não se vê, mas que se sente: uma conexão invisível que os une, como fios de um tecido em construção.


No canto do estúdio, uma bailarina ajusta a sapatilha, respirando fundo. Ela olha ao redor, observa seus colegas – todos em suas lutas individuais, mas ao mesmo tempo unidos por essa busca comum. Quando volta ao palco improvisado, seus passos têm agora um toque de delicadeza e força renovadas. Ela parece flutuar, como se, por um instante, tivesse se libertado das incertezas que o ensaio traz.


Finalmente, o coreógrafo interrompe. Há uma pausa, um silêncio carregado de significados. Ele observa cada rosto, cada expressão cansada, cada olhar ainda aceso pela vontade de continuar. "Bom trabalho hoje", diz ele com um meio sorriso, e todos suspiram, em um misto de alívio e realização. O ensaio termina, mas algo ainda fica no ar – talvez a certeza de que a perfeição, para eles, não está nos movimentos, mas na entrega a cada tentativa.

E enquanto os dançarinos saem, trocando olhares cúmplices e sorrisos tímidos, o palco vazio parece guardar cada passo, cada esforço. O ensaio terminou, mas o processo continua, nas mentes e nos corpos daqueles que, amanhã, estarão ali de novo, prontos para recomeçar.


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